Marcus Brancaglione
3 min readMar 1, 2016

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Woow.

Faz tempo que eu não vejo alguém devorar e ultrapassar conhecimento nesta velocidade. Que bom, você vai mais rápido do que eu sou capaz de produzir. Vejo que suas reflexões são bem mais profundas que os textos panfletários que tenho escrito.

Você tem razão quanto a necessidade de transcendência epistemológica como processo de libertação enquanto emancipação pelo desenvolvimento da consciência. Contudo esse processo não se processo sozinho ou ao acaso, mas sim mediado, não apenas pela conexão das pessoas entre si, mas delas com o mundo como rede da vida, ou mais precisamente como ordem lógica e geracional da própria materialidade.

Nos estamos falando portanto de um dos mitos mais antigos da filosofia, o da saída da Matriz, da caverna de Platão, dos mundos artificiais e ilusórios para o despertar o encontro da “lucidez”. Mas isso ocorrer como ligação ou mais precisamente como religação com princípios libertários mediados por um estado de espirito ou se preferir de cognição dado pela voluntariedade da concepção dos próprios valores, mas nunca fechada em suas próprias reflexões ou em grupos isolados.

A prova que nada se cria do que já esta dado sem se ligar a Liber criativa do desconhecido ao mesmo tempo que esse insight libertador que conecta a teoria de redes a pedagogia libertária não está explicito, mas já pode ser lido em Paulo Freire e sua cognição dialógica:

“O dialogo não é um produto histórico, é a própria historização, É ele, pois, o movimento constitutivo da consciência que, abrindo-se para a infinitude, vence intencionalmente as fronteiras da finitude e, incessantemente busca reencontrar-se além de si mesma. Consciência do mundo busca-se ela e a si mesma no mundo que é comum, porque é comum esse mundo, buscar-se a si mesma é comunicar-se com o outro. O isolamento não personaliza porque não socializa. Intersubjetivando-se mais, mais densidade subjetiva ganha o sujeito.

A consciência e o mundo não se estruturam sincronicamente numa estática consciência do mundo: visão e espetáculo. Essa estrutura funcionaliza-se diacronicamente numa história. A consciência humana busca cencurar-se a si mesma num movimento que transgride, continuamente, todos os seus limites.

Totalizando-se além de si mesma, nunca chega a totalizar-se inteiramente, pois sempre se transcende a si mesma. Não é consciência vazia do mundo que se dinamiza, nem o mundo é simples projeção do movimento que a constitui como consciência humana. A consciência é consciência do mundo, o mundo e a consciência, juntos, como consciência do mundo, constitui-se dialiticamente num mesmo movimento, numa mesma história. Em outros termos, objetivar o mundo e historicizá-lo, humanizá-lo. Então, o mundo da consciência não é criação, mas sim, elaboração humana. Esse mundo não se constitui na contemplação, ma no trabalho.

Na objetivação transparece, pois, a responsabilidade histórica do sujeito: ao reproduzi-la criticamente, o homem se reconhece como o sujeito que elabora o mundo, efetua-se a necessária mediação do autoconhecimento que o personaliza e o conscientiza como autor responsável da sua própria história. O mundo conscientiza-se como projeto humano: o homem faz-se livre. O que aparecia apenas ser visão é, efetivamente, “provocação”, o espetáculo, em verdade, é compromisso.

Se o mundo é o mundo das consciências intersubjetivadas, sua elaboração forçosamente há de ser colaboração. O mundo comum mediatiza a originária intersubjetivação das consciências; o autorreconhecimento plenifica-se no reconhecimento do outro; no isolamento, a consciência modifica-se. A intersubjetividade, em que as consciências se enfrentam, dialetizam-se, promovem-se, é a tessitura ultimado processo histórico de humanização. Está nas origens da hominização e anuncia as exigências últimas da humanização. Reencontra-se como sujeito e liberar-se, é todo o sentido do compromisso histórico. Já a antropologia sugere que a “práxis”, se humana e humanizadora, é a “prática da liberdade”.

PS: Vou postar mais dois textos pra você: um inédito (que está cheio de buracos ainda mas acho que serve ao proposito da troca de ideias);

e outro que já publiquei e está meio que perdido dentro de uma outra temática mais teológica, mas talvez tenha uma ou outra ideia aproveitável dentro do que estamos conversando.

Abraços…

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Marcus Brancaglione

X-Textos: Não recomendado para menores de idade e adultos com baixa tolerância a contrariedade, críticas e decepções de expectativas. Contém spoilers da vida.