Marcus Brancaglione
6 min readAug 16, 2015

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Foto sob licença ⒶRobinRight -Bruna Augusto

Não importa se a Dilma vai cair ou não, uma revolução já está em curso no Brasil

Não que a queda ou permanência de um presidente seja irrelevante, mas sua derrubada ou sustentação principalmente forçada não irá parar as mudanças que já estão em curso no Brasil. Posso ser um utopista ou visionário, mas vejo uma revolução constitucional democrática por liberdades e direitos fundamentais despontando no Brasil. Claro que isto poderá resultar antes em mais retrocessos e até mesmo confrontos. Mas duas coisas estão certas:

· Uma: mesmo que governo e congresso pareçam não ter entendido não há mais como as coisas voltarem como eram antes: pelo menos não como eram antes de Julho de 2013.

· Outra: a queda ou continuação deste governo não será o fator determinante das mudanças do Brasil.

Fica cada vez mais claro que o embate político não é nem nunca foi entre governo e oposição, mas sim entre a sociedade e a uma classe política que não só larga jamais seus privilégios como se unirá para se salvar e jogar as contas mais uma vez nas parcelas da população menos capazes de defenderem seus direitos e interesses. Guardem o que eu digo, derrubada ou mantida a presidente, a solução final deles será a mesma: salvar a podridão de uma república em crise não só política e econômica, mas institucional atacando direitos fundamentais e a sociedade civil. Aliás, a crise nunca foi só política e econômica, mas sim de legitimidade, representatividade e credibilidade. E não só deste governo ou da atual presidente da república, mas do esgotamento da democracia representativa.

Nenhum bode expiratório ou holocausto, mesmo de todo o povo posto a posta a pagar pelos contas e pecados de seus chefes e governantes irá frear uma mudança de tempos e geração. Nenhuma reforma constitucional frouxa; nenhum arroxo disfarçado de austeridade; nenhum impedimento irá parar as mudanças que estão acontecendo. A revolução que está em curso não é apenas contra a velha democracia representativa, mas contra a velha república oligárquica. É não deriva de um projeto de poder, mas do nascimento de uma nova geração que se levanta contra as velhas formas de lidar com as coisas públicas e privada e sobretudo com o direito e as liberdades fundamentais.

Quando o governo e o congresso não entendem o espirito do país, pior paro o povo; mas quando eles não entendem o espírito do tempo pior para eles e tanto melhor para o povo. Lógico, tanto governo quanto congresso não ficaram parados desde as manifestações de 2013, nem sequer o perfil dos manifestantes é ainda o mesmo, mas isso não desqualifica as novas manifestações. Pelo contrário, este é só um dos erros que se cometeu, e que aposto vai se continuar cometendo. E aqui faço questão de elencar todos estes erros que selarão o destino de uma forma de governar apartada da sociedade e poderá sim se arrefecer agora, mas apenas para decair em definitivo:

1. a desqualificação da legitimidade destas manifestações por serem direita.

2. a pressuposição de toda a esquerda não-pelega não irá se reapropriar das ruas.

3. o pior de todos, que a população que não tem tempo livre para se definir politicamente entre esquerda ou direita não irá se revoltar e ocupar as ruas ainda mais legitimamente em sua causa própria que qualquer outro movimento.

E só não afirmo que a lei do terrorismo é o quarto erro, porque não pressuponho tamanha estupidez ou conspiração na classe politica atual, pelo menos não ao ponto de tentar criminalizar manifestações populares. Mas talvez algum idiota ingênuo retruque: movimentos e manifestações absolutamente pacíficas não estão enquadrados nesta lei. Mas é para isso é que serve o agente sabotador. E se depois do século passado, retrasado e todo presente você ainda não sabe o que é um, então não perca mais seu tempo: pare de ler este artigo e vá assistir o próximo jornal nacional.

Não sou ingênuo. Como disse não duvido que tais ações resultem numa contrarreação e que mais uma vez toda uma nova geração seja sacrificada para preservar o velho regime e os seus donos, mas se os custos de medidas e regimes autoritários não são ainda completamente insustentáveis, estão sim se tornando cada vez mais proibitivos no mundo inteiro. No entanto para que não digam que estou fixado só nos erros governamentais e não vejo as forças corporativas e privadas, afirmo que se eles acreditam que seja sacrificando a Dilma seja sustentando um governo fantoche, se pensam que irão manipular inconsequentemente o país, então ninguém aprendeu nada com as últimas eleições. Pode até ser que se consiga mais uma vez enganar as massas, mas maquiar a realidade não só não elimina os problemas como está nova adulteração terá um custo que poderá esgotar de vez não um governo antes que qualquer recuperação econômica, mas todo um arranjo institucional do qual as corporações tanto dependem jurídica e economicamente.

O sucesso ou fracasso do movimento de derrubada deste governo e da presidente não será o fator determinante para o que será do Brasil (até porque ela já não governa mais nada de fato). O mais importante já está em andamento e está presente na forma não só como está se dando o embate entre o ataque e defesa do governo, mas como a sociedade tem digerido a luta por trás pelo poder. Para o Brasil o resultado do embate será menos importante que os impactos e custos não só da própria guerra político-econômica pelo poder, mas dos movimentos estratégicos dos parasitas para tentarem se salvar a esta sangria institucional. Por isso haja a queda ou permanência da presidente o que não haverá é, assim como nas eleições presidenciais, é consenso:

· Se as operações pararem por que a Dilma caiu será um claro golpe contra a esquerda e não contra a corrupção

· Se as operações continuarem após ela cair, então não cairão apenas todos os políticos, cairá o próprio sistema que não é corrompido, mas inerentemente burocrático para ser corrupto e corruptor.

Aconteça o que acontecer, mesmo que as manifestações não sejam fortes, ou não sejam repercutidas, a crise não irá parar; a força ou fraqueza das manifestações não apenas esta, mas futuras pode ser determinantes para a derrota de um determinado projeto, mas as mudanças, estas irão ainda que silenciosamente não apenas continuar mas se acelerar e explodir novamente quando menos se esperar a revelia das manipulações da mídia e dos governos.

O mundo mudou e queiram os políticos ou não, queiram os donos do capital ou dos meios de comunicação ou não, caminharemos para estados de garantia de direitos fundamentais plenos, direitos inalienáveis a autopreservação e autodeterminação não apenas dos povos, mas das pessoas naturais. Estados de direitos naturais que não são compatíveis com igualdades impostas a força autoritariamente, nem muito menos com desigualdades de autoridades impostas por prerrogativas de violência e monopólios estatal sobre o bens comuns a natureza e os meios vitais. Em outras palavras, a pergunta não se o velho irá durar eternamente, mas quanto do novo ainda ele irá matar para persistir no poder. Ou mais precisamente quanto jovens e inovações estes velhos representantes destes sistemas autoritários, patriarcais e primitivos vão literalmente matar apenas para estender um pouco mais seu tempo no poder.

O problema, portanto não é oposição nem governo, é esta maldita geração de velhos no poder tão doentes pelo poder que são capazes de destruir não só todo o país, mas o mundo com todas as pessoas e natureza dentro apenas porque se não puderem ter tudo o que querem então ninguém poderá tê-lo. Essa não é uma característica deste ou daquele político, deste ou daquele partido, esta é a mentalidade da classe política, uma classe formada de uma geração de reizinhos keinezianos que considera a violação da vida, liberdade e propriedades naturais algo tão absolutamente banal que não deixará absolutamente nada para as próximas gerações.

Marx estava errado. O último estágio do capitalismo não é feito do trabalhador proletário. O escravo desta nova distopia do precariado é o jovem trabalhador sem filhos (ou praticamente sem) destinados a sustentar aqueles que são donos de tudo, não porque detém os meios-de-produção, mas porque da humanidade patriarcal são os primogênitos. Tendo nascido primeiro e lockeanamente fincado sua bandeira em cada pedação da terra, são eles e seus herdeiros destinados a serem eternamente apenas as cópias de seus pais são eles os donos de absolutamente todo capital. Talvez você diga, mas esse sistema levará inequivocamente primeiro a despopulação e depois a extinção. Pois é. É como disse o distopista Keynes: “No futuro estaremos todos mortos”. Com certeza, principalmente no futuro deles. Por isso, mais do que nunca, governe-se.

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Marcus Brancaglione

X-Textos: Não recomendado para menores de idade e adultos com baixa tolerância a contrariedade, críticas e decepções de expectativas. Contém spoilers da vida.