Múmias políticas e ideológicas

De como terminam (e se eternizam) os cultos a falsidade ideológica

Marcus Brancaglione
7 min readMay 5, 2016
Estátua do ex-premiê italiano Silvio Berlusconi

pelo menos deste capítulo:

Parece que a rouquidão de última hora do Lula no 1° de Maio, colocou de volta a pulga atrás da orelha da Dilma com os lulistas, se é que ela tinha saído. Lógico que a senhora tem as manias delas, mas só quem conhece a turminha do ABC sabe que não há paranoia nem mania persecutória que ganhe deles.

Pois é. Parece que ela desistiu de comprar a ideia que vinham soprando com todo o cuidado no ouvido dela, para ela “tomar” a bandeira popular das “diretas já´ como se fosse sua. Pelo menos por enquanto. E considerando que por enquanto é um capital que ela perde mais rápido do que troca de decisão, a chance de ele virar nunca é cada dia maior.

É claro que para ela já era tarde. Faz tempo. Mas para as diretas ainda não. Nunca é.

Não sei se os últimos dilmistas do futuro bunker da alvorada se “assustaram” com a grita dos ativistas da esquerda independente que protagonizam até agora a defesa do movimento e que não engolem a demagogia petista nem debaixo de ameaça. Pode ser que tenham percebido que desta vez não ia dar para se infiltrar e manipular mais uma causa com tantos ativistas de esquerda em alerta para suas estratégias de sabotagem e guerra.

Gostaria de acreditar nisso, mas sinceramente não acho que tenha sido essa a “preocupação”. Eles se acostumaram demais a passar com facilidade por cima de “utopista” e “idealista” e qualquer princípio ou gente com eles, para se preocuparem com a minúscula oposição de esquerda “radical”. Eles podem até se matar na hora de dividir o butim, mas mesmo brigados, traídos ou em guerras aberta, todo político da dita esquerda sabe que pode contar com seus mui inimigos da direita, a midia e os pelegos das duas trincheiras arrebentar com toda iniciativa popular. Não é isso.

Se caiu alguma ficha foi que se tomassem qualquer movimento com seu atual nível de popularidade tudo que que ganhariam seria exatamente o apoio que tem hoje pelegos incendiários e dos fanáticos espalha roda, e do movimento restaria até menos do restou do governo.

Sem o controle do aparelho estatal, sem a midia e sem sequer a verba de publicidade nas costas só o que tem para os palacianos é a sua palavra, ou o que é a mesma coisa, a confiança daqueles que ainda acreditam nela.

Sorte para as eleições diretas. Azar para Lula. E a culpa é da Marisa.

Depois de passar meses articulando e costurando com deus e o diabo de novo a sua tomada do barco das eleições diretas, não só continua amarrado ao barco em chamas da capitã Dilma (que ele ajudou a queimar), como de quebra responder com ela por obstrução de justiça.

Aliás coincidência ou não. Tudo naufraga ou melhor vem a tona, logo após o recuo.

http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/wp-content/uploads/sites/41/2016/05/Peti%C3%A7%C3%A3o-Lula.pdf

O que deve ter de colarinho branco desesperado ou rezando pra avião cair. Teve até politico honesto, ou pelo menos que nem estava na denuncia tendo ataque histérico. Isso é que é pegadinha. E a Dilma indignada querendo saber quem foi que vazou a denuncia em que ela estava, imagina o Cid então, procurando o corno quem plantou que ele estava junto com ela. Vai só entender porque ele que ele acreditou, ou achou que precisava mesmo negar antes se nem estava.

http://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/cid-gomes-diz-que-se-estiver-na-lava-jato-teori-e-corno-janot-ladrao-e-moro-picareta/

Esta é a Brasilia de antes do impeachment para a brasília pós. Antes todo mundo sabia o que outros faziam e todos fingiam que não: que nem sabia que sabiam, e nem sabiam que todo mundo fingia não saber.

Agora é claro que todo mundo continua sabendo o que todo mundo fez, mas não sabe mais quem contou o quê e fingi que não contou nada, e quem não sabe nada e finge que já sabe de tudo.

Mas fora isso, a histeria dos colarinhos brancos, não tem porquê. Basta olhar para o Maluf.

Líderes Políticos que sabem demais, podem até ser são processados, podem até ser algemados, podem até ser condenados em primeiras instâncias, mas jamais vão pagar, por seus crimes, entenda-se devolver nada do que roubaram. Até porque o grosso quase nunca fica com eles.

Seus processos se arrastam anos a fio na justiça sem que jamais ser definitivamente condenados ou absolvidos. Sua única sentença é andar o resto da vida política que lhes resta como espantalhos das pessoas que foram, ainda reeleitos por suas eleitores mais fieis, mas sem nunca mais recuperar o prestigio e a credibilidade que tiveram — entre outras coisas bem mais importantes.

Líderes Políticos não vão presos nem são condenados a nenhuma “morte politica” ou ostracismo. Líderes Políticos são mumificados. E suas múmias são permanentemente expostas a adoração dos fieis tanto em imagem quanto ideologia- e nos casos mais mórbidos de delírio coletivo literalmente.

Qualquer semelhança com cultos e ritos religiosos não é mera coincidência. De muitas formas diferentes eles não são meramente semelhantes mas rigorosamente iguais.

Demagogos não morrem, apodrecem em vida e são preservados como mortos- vivos até depois da morte não apenas pela insanidade crente dos seus fieis, mas pela sua quando realmente passam a crer nas suas proprias fantasias.

E essa é a pior condenação de uma alma, este é o inferno dos demagogos: serem adorados e invocados até depois da sua morte por fanáticos, serem condenados a viver a fraude que foram em vida até depois da morte. Definitivamente não há pena mais longa. Nem pior cárcere a uma alma.

E não adianta reclamar desta justiça, porque ela não pertence aos homens nem a seus deuses ou super-homens, nesta condenação há outro outro juiz senão o próprio réu. É ele que se entrega ao cárcere como se ganhasse um trono, e aos tronos quem não sabe que renuncia ao espírito da liberdade.

Mas não vamos nos perder em metafisica libertária. Há muito ainda do que se livrar agora:

http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/temer-e-ficha-suja-diz-procuradoria-eleitoral/

Porque nos livrar de quem nos vendia nas alcovas ao inimigo não nos liberta, apenas nos empodera para livres das falsas lideranças e suas traições possamos lutar de fato contra nossos problemas que eles fingem remediar. A começar pelo primeiro e imediato legado político deles: seus ex-aliados no poder.

A defesa de A vai acusar B e a de B vai acusar A, mas o fato, por A+B, é que eles eram simplesmente iguais: Governo. Temer foi articulador de Dilma. E neste período é impossível dizer que não só Temer sabia quem era Dilma, o que ela queria, como Dilma não sabia muito bem quem era Temer e o que queria dele.

Vejam interessantes artigos “de época” quando a ordem do dia era outra.

Muito em breve vão se tornar pública também as guerras e traições mútuas entre dilmistas e lulistas, o principio do racha de todo esse projeto de poder. E novamente as pessoas que vão correr e tomar partido de um ou de outro lado, como se tudo se resumisse ao que interessa a eles:o velho nós contra eles; este partido ou aquele… mas e o seu partido? o partido das pessoas contra todos partidos e suas guerras politicas? o partido da sociedade contra o golpe que é todo Estado? quando elas vão tomar partido delas mesmas?

Ou simplesmente me pergunto Quando finalmente vamos entender que Soberania Popular não é supremacia dos populistas?

Não sei, mas no dia que estivermos vacinados contra a falsidade ideológica do velho populismo latino-americanos entenderemos que as diretas já não será um movimento para reeleição de novos representantes, mas para a eleição dos últimos com um único mandato: instaurar a democracia direta que não é senão por um a própria ditadura das representações. Algo que jamais será feito enquanto não for essa e tão somente esse a principal responsabilidade governamental.

Em tempo:

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/05/ministro-do-stf-arquiva-pedido-de-investigacao-contra-dilma-sobre-a-compra-de-pasadena-5793698.html

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Marcus Brancaglione

X-Textos: Não recomendado para menores de idade e adultos com baixa tolerância a contrariedade, críticas e decepções de expectativas. Contém spoilers da vida.