Estado, Anarquia e Panarquia: Porque a cultura libertária nunca deixará de ser uma utopia enquanto não reivindicar e lutar por ao menos um território livre

Ou porque a necessidade de abolição da tirania do Estado, passa pela instituição da democracia antiestatal

Marcus Brancaglione
7 min readOct 21, 2017

Em defesa da Pan-arquia internacional e Constituição de Repúblicas Democráticas Supranacionais de Direito Libertário

Uma dos maiores erros ou falhas presentes no credo ou consciência anarquista e libertário, é a ideia utópica de um mundo cosmopolita sem Estados. Em tese isto é perfeitamente possível desde que você suponha:

A. Que todos os povos e pessoas do mundo respeitam a todo tempo em todos lugares o principio da não agressão e convivem em paz sem querer impor a sua cultura e credo. Ou:

B. O anarquismo ou libertarianismo como todo credo imperialista, esteja disposto a se impor pela força de fato contra mesmo a quem se recuse a viver ou conviver nessas cultura.

Logo se toda pessoa humana tem direito ao exercício da autodeterminação e consensualidade e portanto ninguém pode ser obrigado a manter ou ser mantido em relação forçadas com ninguém, as livres associações mesmo as autoritárias e hierárquicas e até violentas que respeitem esse principio, ou seja que estejam restritas a quem permite sem impor a mais ninguém que expressamente de seu consentimento, não estão a violar a liberdade de ninguém mas a exercer a sua. Pelo contrário, a intervenção para impedir esse forma de relação, comunhão, ou associação, para impor outras, ditas libertárias ou anárquicas, esta sim constituiria o oposto: a violação da forma de vida e liberdade. O que empiricamente se comprova sem necessidade de nenhuma tese mas pela simples verificação de quem carece apelar agressão para impor findar ou manter ações, relações de poder ou posse, ainda que ideológicas.

Se o pensamento anarquista e libertário não é meramente mais uma entre tantas ideológicas político-econômicos, mas um credo ou consciência antropológica e ecológica que opera portanto no plano da cosmovisão epistemológica e não do fundamentalismo doutrinário. Ele compreende então que verdade enunciada não é verdade, mas enunciado de verdade. E portanto não mais verdadeiro a quem não o emite mas só o recebe quanto qualquer outro enunciado, mesmo o falso. De modo que é por coerência ou honestidade intelectual apenas necessariamente obrigatório para o emissor e nunca para o receptor. O que implica que cada pessoa e povo tem o direito a sua cultura por mais absurda que pareça ao outro, e de modificá-la a qualquer tempo igualmente a revelia do julgamento alheio, desde que não tente impor esses juízos como jurisdição sobre o alheios. Na verdade, não há nem deve haver fora da sociedade libertárias nenhum dispositivo que o impeça de desejar ou tentar isso, mas deve haver sim nas sociedades libertárias disposições e dispositivos prontos para impedi-lo a todo e qualquer tempo.

Porém da mesma forma que os autoritários e hierarquistas tem o direito de viver em paz em algum lugar onde passam vivenciar sua cultura e forma de vida; tem o direito a defender esse terra e território, mas não tem o direito de impor a sua forma de vida imperialmente a outras pessoas e culturas, nem dificultar a saída ou entrada de pessoas que queiram viver em paz dentro de seus estados de paz. Os anarquistas e libertários enquanto também o têm os mesmos direitos. E qualquer pretensão maior do que essa sobre o mundo, faria dos libertários e anarquistas nada mais do que imperialistas fundamentalistas, qualquer pretensão menor que essa manterá os anarquistas e libertários exatamente onde estão: pessoas de uma cultura marginalizada encerradas em Estados que não reconhecem e que não reconhecem seu credo e consciência, literalmente sem lugar nenhum de fato para viver em paz na terra. Um povo sem território. E o pior com um utopia, porque não sendo imperialista, nem territorialista não sonha com um lugar para viver em paz, mas com o dia seguinte do apocalipse quando virá o paraíso e lobos e ovelhas viverão juntos em paz.

Nem todo autoritário e hierarquista e reacionário é necessariamente alguém violento. E mesmo os que são tem o direito de sê-los deste entre eles. O que torna um autoritário hierarquista ou reacionário perigoso é exatamente o mesmo principio que torna os libertários anarquistas e revolucionários, o fundamentalismo e monopolismo. Isto é o credo que podem se valer de todos os meios incluso a violência para impor a todos os demais o único credo, cultura e ideias verdadeiras, as suas.

O pensamento libertário fora do plano teórico como praxis, demanda a evolução da anarquia para a panarquia. Não como utopia onde o libertário aguarda o entendimento e respeito multilateral dos demais a sua cultura e forma de vida, mas onde ele respeita sem impor nenhuma condição nem mesmo a de reciprocidade a cultura alheia, porém ao mesmo tempo não pede o respeito a quem lhe é surdo ou se faz, mas simplesmente se afirma e protege com todos os meios necessário para preservar sua forma de vida em liberdade, prontos a se defender e resistir contra quem não tolera não só conviver com sua forma de vida, mas de fato sequer que qualquer forma de vida semelhante que pense ou age de forma distinta da sua.

O libertário é por definição uma identidade que não se constrói por segregação identidade nacional, religiosa, racial, consanguinidade, pelo simples fato que essa agregação implica por consequência na segregação da diversidade não compreendida pela afinidade que define a comunhão. Não é uma portanto uma identidade desagregatória, mas sim universalizante, plural e inclusiva, que logo não demanda a anulação das demais nem fora nem dentro de seus espaços de convivência pacíficas -os territórios governados por suas sociedades de paz- mas pelo contrário protege essa pluralidade e diversidade de indenidade desde que nenhuma delas busque violentar ou privar de meios a existência ou liberdade de coexistência e relação das demais, ou seja vivam e deixem viver em paz. Essa identidade cosmopolita portanto não implica a negação de nenhuma forma de identidade particular, coletiva nem religiosa, política, cultural ou nacional, mas pelo contrário demanda o respeito preservação e proteção de todas elas dentro do alance das suas possibilidades de fato, a areá de proteção que constitui de fato o território livre ou de paz literalmente por negação ou proteção contra a violência e a pretensão de monopólio violento dos Estados e sua Pax pela guerra ocupação e servidão dos dominados.

A identidade cosmopolita dos libertários, não é portanto uma identidade impositora e constritora que renega a liberdade identitária dos indivíduos e povos e suas sociedades. Mas que literalmente as aceita e protege dentro do seu território, e respeita ainda que violenta desde que não busque colocar suas mãos e violar nenhum pessoa ou povo que não consente expressamente em viver nessa cultura e estado. Este principio delimita o direito de uso da força em autodefesa -a mutua- e intervenção em defesa da pessoa humana -a universal, isto é, aquela voltada quem não faz parte da mutualidade mas efetuada pela responsabilidade social e humanitária voluntária dos mutualistas. Evidentemente que essa possibilidade de ajuda universal do Estado Libertário de intervir está delimitada pela sua capacidade de interver e intervir com efetividade, ou seja sem causar mais danos ou guerras.

Evidente que libertários e anarquistas não podem constituir por definição Estados, mas precisam por necessidade constituir Anti-Estados, territórios livres, que podem até tolerar em seu seio cultos e credos de desigualdade de poder desde que esses vivam em paz e não tentem impô-los a ninguém não só por violência, mas por posse exclusiva do que é vital para todos. Ou seja, completamente regidos pelo seus princípios da anti-tirania e do anti-fundamentalismo. Ou seja, na prática formar uma democracia direta popular plena. Uma república onde ninguém tem o direito de estabelecer ou impor sua vontade pela uso da força, mas sim tem o dever mútuo de defender uns aos outros de quem por ventura queira instaurar essa tirania seja contra todos ou sequer uma única pessoa.

Não importa se o fundamentalista seja um imperialista cheio de ódio e poder, ou um missionário cheio de amor e vontade libertação. Liberdade e libertação e libertadores não se impõe se dispõe e não onde o visitante quer, mas onde o dono da casa deixa, se deixar. E quem não acredita que não há propriedades, nem do corpo nem do que o corpo precisa para existir a cabeçar de um chão sobre seus pés. E quem diz que nada é de ninguém é tão totalitário quanto aquele que diz que tudo é seu. Porque o todo e nada, os absolutos são apenas nomes e abstrações distintas para uma mesma realidade que é universal, mas multiversal. Ou se preferir a sua universalidade é absolutamente igual na sua multiversidade.

Ou o credo libertário renuncia a pretensão de governar o mundo ainda que pela sonho misionário da cultura universal ou rompe completamente o arcabouço dos fundamentalistas que querem governar e ser governados imperialmente, e entende que tudo que pode e tem direito é viver em paz algum lugar livre deles. Ou continuará a ser o que é: um credo que existe em lugar nenhum. Uma utopia, o sonho do paraíso perdido daqueles obrigado a viver presos dentro da distopia de Tiranos que fizeram de seus domínios violentos seu monopólio sobre o mundo inteiro na forma do seus respectivos Estados-Nações.

Esta na hora dos libertários pararem de sonhar e começarem a buscar a sua terra prometida nem que para isso precisem construí-la no meio do nada, ou nos escombros de Estados decaídos. Mas sabendo que independente de qual caminho tomem sempre terão de enfrentar a oposição violenta daqueles que não aceitam que ninguém viva de forma livre, especialmente em uma liberdade que denuncia e ofende a sua condição e relação servil e tirânica.

Já está passando do tempo das utopias libertárias ganharem o mundo e constituem as verdadeiras repúblicas democráticas populares que nunca existiram em lugar nenhum. Em breve não teremos mais um Planeta para construir nada, depois que esses gafanhotos devorem tudo, inclusive as outras pessoas. Porque se existente uma vocação para a fé libertária é essa: a libertação das pessoas e povos do mundo que anseiam e clamam por liberdade. Não como um sonho, mas como uma terra para viver em paz longe desse homem completamente sedento e viciado na carne do homem.

Dedico essa critica a todos os povos refugiados desterrados do mundo, vivendo como servos e escravos, prisioneiros em terras estrangeiras ou encarcerados em sua própria terra natal pelo cercas e cercos de todos os Estados-Nações do mundo a começar pelo daquele que supostamente seria o seu Estado e Nação.

Liberdade não é uma questão de meras reforma agrárias, mas de revolução gregaria e agrária. Nada menos que a Libertação do homem e da terra. Da Liber da Vida. A ordem da Paz e Justiça dos cosmopolitas. E não a Pax dos romanos e americanos.

E que os romanos e americanos fiquem com em paz com sua Pax, com seus ídolos, cultos e deuses todo-poderosos, que fiquem com sua Pax, mas em suas Romas e Américas.

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Marcus Brancaglione

X-Textos: Não recomendado para menores de idade e adultos com baixa tolerância a contrariedade, críticas e decepções de expectativas. Contém spoilers da vida.