Critpomoedas: Porque no Zimbábue 1 Bitcoin vale quase o dobro do mercado mundial: 10 mil dólares?

Ou como destruir um pais oscilando entre a estupidez da ortodoxia liberal e o desenvolvimentismo socialista -e como as moedas digitais podem ajudar não só o povão nessas e outras horas…

Marcus Brancaglione
7 min readOct 30, 2017

No início dos anos 2000, de acordo com a publicação, o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, [o laureado pela ONU] encorajou os cidadãos a invadir fazendas de propriedade principalmente de descendentes do Reino Unido. Após essas invasões, a agricultura do país entrou em colapso, o que levou o Banco Central do Zimbábue a ficar sem dinheiro.

Em meados dos anos 2000, o banco decidiu imprimir dólares zimbabuenses para pagar o exército, funcionários públicos e policiais. A impressão em massa de dólares, como seria de esperar, levou a hiperinflação.

O problema ficou tão ruim que as pessoas carregavam de pilhas de dinheiro sem valor e logo começaram a acumular bens para usar como meio de troca. Então, em 2009, Mugabe cedeu e substituiu o dólar zimbabuense pelo dólar americano para se livrar da hiperinflação.

Funcionou e os preços se estabilizaram, mas desde que o Banco Central do Zimbábue não pode imprimir dólares americanos, o país agora os importa para levá-los ao sistema financeiro. (…)

Então, com as intenções de nacionalização, as exportações começaram a desmoronar e agora, de acordo com a Bloomberg, os bancos racionam dólares para apenas US$ 20 por pessoa, independentemente da quantidade de cada indivíduo em sua conta bancária. Alguns até dormem fora dos bancos para garantir notas antes que elas esgotem.

O banco central do país, para corrigir o problema, começou a emitir as chamadas notas obrigatórias que supostamente têm o mesmo valor que o dólar americano. A maioria das pessoas não as aceita, uma vez que os fornecedores estrangeiros se recusam a aceitá-las, e algumas empresas cobram ágio de até 50% para aceitá-los.

De acordo com o economista Vince Musewe, o problema no Zimbábue hoje não é a falta de bens para comprar, mas a falta de dinheiro para fazê-lo — exatamente o oposto do que era quando a crise do país começou inicialmente.(…) Para escapar da crise do país, os zimbabuenses agora estão se voltando para uma moeda que não irá decepcioná-los como as moedas fiat: o bitcoin. -Bitcoin se Aproxima de US$ 10 Mil no Zimbábue

Na Venezuela idem

(…)Os consumidores também estão usando Bitcoin e outras altcoins como um meio de liquidar contas e continuar os negócios na economia incerta e volátil.

Como as criptomoedas são descentralizadas, elas são vistas como uma solução simples e segura para a necessidade de uma moeda estável em países onde as práticas governamentais destruíram os valores cambiais. -Venezuelanos Continuam Usando Criptomoedas para Fugir da Crise

E não só pagando contas… “Vendedores de Itens no jogo ganham mais do que profissionais formados na Venezuela”

Recentemente, houve muitos relatos de venezuelanos fazendo “Gold Farm” em um MMORPG chamado Runescape. As manchetes recentes explicam que os venezuelanos no jogo estão vendendo os itens coletados no jogo por bitcoin para se sustentarem na vida real. A venda de itens por dinheiro real sempre foi considerada uma operação controversa e rentável, uma vez que o jogo online tornou-se extremamente popular. O modelo de negócios começou a tendência na China, onde os jogadores adquirem moedas ou itens do jogo e depois os vendem por “dinheiro real”. (…)

Os venezuelanos que jogam o jogo Runescape estão focados em matar “Green Dragon”, um dragão que é possível coletar 500 mil de ouro do jogo por hora, o que equivale a US $ 0,50 em dinheiro real quando vendido. A maioria dos jogadores está fazendo cerca de US$ 0,50 por hora, que supostamente é um salário melhor do que a maioria no país. Alguns venezuelanos podem fazer até US $ 2–3 por hora se tiverem habilidade suficiente para matar o Boss Zulrah repetidamente e fazer aproximadamente 3 milhões de ouro por hora dentro do jogo. Os venezuelanos com esse nível e habilidade no jogo estão ganhando mais dinheiro que a maioria dos profissionais do país com diplomas universitários. -Venezuelanos Vendem Dinheiro Dentro de Jogo e Transformam em Bitcoin

Como isso é possível?

Um: 1 bitcoin vale mais de 100 milhões de bolivares

A hiperinflação está devastando a Venezuela. E agora chegou ao ponto em que um satoshi (0.00000001 BTC) é equivalente a um Bolívar Venezuelano (Moeda da Venezuela).

A taxa de câmbio usada é a da plataforma de negociação P2P LocalBitcoins desta quinta-feira.

O preço por unidade de Bitcoin em VEF (Bolívar Venezuelano), está atualmente em torno de 104 milhões. — Um Satoshi é Igual a um Bolívar Venezuelano

Dois (e mais importante): o salário mínimo na Venezuela alimenta uma família por 2 dias

Caracas, 21 out (EFE).- Os venezuelanos precisam de quase metade de um salário mínimo para cobrir as necessidades básicas diárias de uma família de classe média do país(…)

“Um trabalhador precisa de 61.495 bolívares diários (menos de US$ 20 no câmbio oficial) para alimentar sua família, levando em consideração o salário mínimo de 136.544,18, vigente a partir de setembro”, diz o relatório.

Segundo o estudo, divulgado hoje pela imprensa local, uma família precisaria de 13,5 salários mínimos apenas para cobrir as despesas básicas de alimentação em um único mês.

Além do salário mínimo, os venezuelanos recebem um cupom do governo para adquirir alimentos. Depois do último aumento, ele passou a valer 189.000 bolívares (US$ 56 no câmbio oficial).

“Uma casa com dois salários mínimos e dois tickets de alimentação consegue fazer compras suficientes para fazer compras para 11 dias. E se há apenas um salário em uma casa, é suficiente apenas para comprar alimentos para seis dias p ara seis dias por mês”, diz o documento do CENDA, que registra aumento dos preços de 11 alimentos da cesta básica.(…)- Venezuelanos precisam de meio salário mínimo para alimentar família por 1 dia

Mas não só para tentar escapar da carestia ou pagar contas em econômicas destrocadas pela politica econômica monopolista dos governos as moedas digitais podem servir. Elas também podem ser uteis para escapar da própria monopólio político, jurídico e financeiro que permite pilhar ou destruir as economias e sociedades.

O governo da Catalunha — estado que está vivendo uma crise de “identidade” e busca sua independência da Espanha — planeja seguir o exemplo da Estônia e criar uma economia paralela na nuvem. Isso foi declarado pelo Ministério da Economia da Catalunha e noticiado pelo jornal El país.

De acordo com a publicação, uma pequena amostra foi realizada pelo programa de residência eletrônica na Estônia — que estava preparando-se também para emitir sua própria criptomoeda — destinado a pequenos e médios empresários.

Foi relatado que especialistas catalães já pediram ajuda ao fundador do Ethereum, Vitalik Buterin, que os orientou a realizar uma ICO para a plataforma residente virtual.

O governo da Catalunha espera que o surgimento de sua própria moeda criptográfica crie uma comunidade econômica absolutamente independente, escondida dos olhos dos bancos centrais — e de outros órgãos reguladores.- Catalunha pensa em lançar moeda nacional

Ou ainda diminuir a vulnerabilidade e aumentar a competitividade da economia de mercado de um pais, mesmo com um PIB “pequeno”, frente as guerras estato-cambiais e especulações do grande capital financeiro transnacional. O que na prática significa a independência de fato- que por “acaso”não temos no Brasil.

A República da Estônia pode se tornar o primeiro país do mundo com uma oferta inicial de moedas (ICO) apoiada pelo governo além de ter seu próprio token, o ‘Estcoin‘.

A Estônia é um dos principais países da Europa Oriental que desenvolve e recebe as inovações de FinTechs. Há alguns anos, o governo da Estônia lançou um programa de residência eletrônica que permite a qualquer pessoa do mundo possa obter uma identidade digital emitida por ele e registrada na Blockchain. O projeto visa construir uma nova nação digital, impulsionada pela República da Estônia. Ele permite que os residentes eletrônicos recebam as vantagens da identidade convencional, juntamente com um cartão de identificação inteligente emitido pela Polícia da Estônia e da Guarda da Guarda da Guarda e acesso aos serviços públicos da Estônia on-line, e até mesmo iniciar e administrar uma empresa on-line.

Hoje, a nova proposta trata-se do primeiro ICO de um governo e tem o potencial de beneficiar o país e sua comunidade no rápido crescimento de residentes eletrônicos. ‘Estcoins’ poderia ser gerenciado pelo governo da Estônia, mas acessado por qualquer pessoa no mundo através do seu programa e-Residency. -Estônia Vai Lançar Primeiro Token Estatal

Não Pode, não…

A notícia de que a Estônia estava considerando sua própria moeda digital chegou aos ouvidos de Mario Draghi, presidente do BCE. Draghi rapidamente apontou que uma moeda estatal não funciona na zona do euro. Ele disse:

“Nenhum Estado-membro pode introduzir sua própria moeda; a moeda da zona do euro é o euro “. -Estônia não pode fazer sua própria moeda digital

Porém a corrida não pára

No Reino Unido, o governo está atualmente fazendo o piloto de um sistema baseado em Blockchain para o pagamento de reclamantes de benefícios para a saúde. Na Rússia, Vitalik Buterin assinou um acordo com um banco estatal russo para a criação de um sistema nacional especial denominado Ethereum Russia.

O governo da China, entretanto, desenvolveu um protótipo de uma criptomoeda nacional prospectiva no país desde junho de 2017. Em setembro, a China decidiu regulamentar melhor as ICOs banindo-as e eventualmente, considerando o licenciamento como uma opção na sequência. -Corrida para ser o primeiro “criptopaís” do mundo

--

--

Marcus Brancaglione

X-Textos: Não recomendado para menores de idade e adultos com baixa tolerância a contrariedade, críticas e decepções de expectativas. Contém spoilers da vida.