“Alô, Alô marciano, a coisa tá ficando russa…”

Ou eram os deuses astronautas?

Marcus Brancaglione
27 min readNov 6, 2018

Objeto interestelar pode ter sido enviado à Terra por alienígenas, dizem pesquisadores de Harvard

Dois cientistas do Centro de Astrofísica de Harvard acreditam que o ‘Oumuamua’, objeto interestelar visualizado no ano passado com ajuda de telescópios, pode ter sido enviado ao nosso Sistema Solar por alienígenas. Abraham Loeb e Shmuel Bialy, autores do estudo, levantaram a hipótese em artigo publicado na quinta-feira (1), quando tentavam explicar a aceleração do objeto.

O Oumuamua é um objeto raro: de acordo com o estudo, é o primeiro do tipo a entrar no nosso sistema solar. Ao tentar explicar seu deslocamento, os astrofísicos admitiram a possibilidade de que a rota do Oumuamua tenha sido direcionada, e não aleatória.

“Pode ser (parte) de uma sonda totalmente operacional enviada intencionalmente para as proximidades da Terra por uma civilização alienígena”, dizem os autores.

Três hipóteses para o Oumuamua

O físico e vice-presidente do Instituto Principia, Renato Vicente, explica que a hipótese de uma origem alienígena para o objeto tem relação com o fato de os telescópios terem flagrado algo muito raro.

De acordo com Vicente, a visualização da passagem do objeto pode significar três coisas:

Que muitos outros objetos do mesmo tipo circulam pelo espaço, e as atuais teorias que usamos para explicar sua existência não se aproximam do número real deles.

Que o objeto é mesmo raríssimo e tivemos muita sorte de ver um deles

Que ele seja um objeto artificial, por isso a hipótese de que seja um produto de origem alienígena é compatível

“Ao longo do período de tempo que estamos observando (o espaço interestelar), que é curto, a produção (criação de objetos do tipo) deveria ser, no mínimo, 100 vezes maior para que pudéssemos conseguirmos ver um.” — Renato Vicente, vice-presidente do Instituto Principia

Vicente faz, no entanto, algumas ressalvas. “A explicação do objeto artificial parece fácil, mas não é. Envolve uma história anterior. Para ter uma civilização capaz disso, é preciso assumir que existe essa evolução numa sociedade, com a capacidade de fazer viagens interestelares. E a gente tenta assumir a menor quantidade de coisas possível”, lembra. -Objeto interestelar pode ter sido enviado à Terra por alienígenas, dizem pesquisadores de Harvard

Eram os deuses astronautas?

Qual seria a origem desse modelo? Ele teria surgido de forma endógena ou exógena? De dentro das relações entre os indígenas ou de fora na relação como povos alienígenas? Não importa. A resposta a essas perguntas é irrelevante. Ao menos irrelevante as soluções que buscamos. A hipótese de entidades superiores toda poderosas perante a vulnerabilidade existencial dos meros mortais, sejam feitos de mitos ou eventos é irrelevante para explicar esses fenômenos. E quando digo irrelevante, não estou dizendo que deus ou deuses existam ou não. Estou dizendo é irrelevante se eles existam ou não. Sejam o que forem, creia-se no que for, sejam lendas ou invasores de outras terras, a domesticação do homem pelo homem se processaria com ou sem eles.

Podem tanto existir quanto não. Podem ser mitos ou entidades reais, podem ser fantasias mitológicas de situações jamais vivenciadas ou mitos sobre personas e histórias de fato vividas. Podem ser peças de propaganda e amestramento de raças e classes construídas a imagem e semelhança das suas pretensões de superioridade e domínio sobre os que tomam por inferiores. Podem ser fantasias transcendentais de corporificação do poder total, ou todo-poderosos encenando e encarnando essa ideia de poder. Podem ser personificações de medos das forças naturais fenômenos desconhecidas, ou entidades e personas que passam a habitar o inconsciente coletivo das massas como traumas da sua história de vida. Podem ser meros navegantes e conquistadores de um outro mundo de um outra terra, ou sua projeção desse medo para além de todo o mundo conhecido. Podem ser a ideia de alienígenas de outras espécies, planetas, ou até mesmo do além, ou simplesmente o medo do estranho, do extraordinário ou do estrangeiro, o medo do que não podemos compreender e logo controlar seja entidade ou fenômeno encarnado como deus ou fim dos tempos. Ou pode até mesmo ser esse projeção imagética emergindo dos desejos de pessoas e compartilhados por toda a sociedade, tanto como medo quanto adoração. Pode ser o que for, ou o que se creia, Simplesmente não importa. Não importa se a ideia de entidades todo-poderosas e fenômenos de poder total sejam só ideias, ideologias, fantasias de realidade concretizada, ou alucinações. O que importa é a razão pela qual nos tornamos e somos completamente vulneráveis e carentes delas. Não importa se os senhores sejam a idealização ou encarnação do bem ou o sejam do mal. Se o poder e supremacia foi inventado pelo dominador, se nascemos ou fomos colocados em correntes. Não importa quem nos gerou, criou ou educou, não importa seus propósitos e intenções. Não importa sequer se havia um proposito, se ele era bom ou mal. Não importa o que eles querem ou queriam de nós. Isso é um problema deles. Na verdade não importa sequer se eles existem ou deixaram de existir. Simplesmente não importa se há algum sentido ou qual ele era na criação, ou se ela um dia ocorreu. A grande questão, a pergunta que nos faz seres humanos é o que pretendemos ser e fazer com isso : o que queremos ser, a partir do fato de que somos? O que vamos fazer com tudo que somos com as condições que temos?

Crendo ou descrendo, a questão e tomada de decisão permanece. Seja para aquele que não crê em absolutamente nada, seja para aquele que acredita em absolutamente tudo. Independente de quais sejam suas crenças do que tenha gerado ou criado do que rege ou governa sua existência, seja isto um absoluto vazio sem sentido, ou a existência para além da compreensão ou concepção de tudo e do nada. Não importa se somos filhos de senhores ou escravos, de deuses ou demônios, do controle mais absoluto do nosso destino, ou da mais completa falta de sentido para viver. Nada disso tira um fio, aumenta ou diminui sequer um instante da vida, e a questão permanece imutável, escolha-se acreditar e obedecer a ordem ou a lei escolha descrer e se revoltar contra todas as leis. A vida segue e permanece como questão e escolha, incluso de crer ou descrer em tudo o que se quiser, mas sobretudo para o quê se quer.

Venham como venham essas forças, seja como adversidades naturais ou a perversidade de outros seres humanos, venham como medos e fantasias ou legiões, surjam do seio da nossa sociedades ou de fora dela, emerjam do outro ou habitem dentro de nós. Rompam violentamente os frágeis horizontes de eventos das nossas concepções ou assaltem nossos mais profundas emoções, pensamentos nos cegando, acorrentando ou amputando até no prazer de viver e conviver, a pergunta ainda permanece enquanto a sopro de vida. Independente de tudo, o vamos fazer a partir de agora? A existência autônoma sempre permanecerá como singularidade, onde não só o futuro pode ser autodeterminado por esse estado que é sempre presente, mas a o próprio passado não como fato constituinte, mas como nexo e fator determinante do futuro.

A gene e a origem não faz de nós o que somos, como um desfecho, mas possibilidade.Porque “ser” é possibilidade e não a sua ausência. O passado factual que constitui o presente perfeitamente predeterminado é o dos mortos, e não os dos vivos. De modo que a gênese de tudo o que somos, imaginária ou real, deixa de ser relevante quando deixamos de ser mero produto destas causas, para nós tornar produtores das nossas consequências. criaturas que são criadores, seres dotados de organismo e força própria, e não mais apenas parte de um ordem ou organismo maior. Dentro desse universo que a singularidade do ser, não só o futuro é uma tentativa de projeção, mas o passado enquanto justificava de nexo para o presente. Se tal construção é realista ou incrível, a validade dessas correspondência não é pela confirmação dessa passado, mas do futuro, como atualização presente. Realidade que dentro do universo mental não se configura de forma diferente do próprio cosmo, construindo e destruindo ligações como a própria percepção do que existe ou não.

Para efeito da constituição do que somos e seremos nossa origem não é mais um fator determinante, a partir do momento em que ela apenas constitui exatamente isso que somos: uma força dotado de construir o seu campo de probabilidades, seres autônomos. O ponto de criação não está mais fixo em um momento do tempo, mas continuamente presente e renovado, na atualidade e sua atualização. É o ato que determina a relevância dos eventos passados como causas conexas, e futuras como conexões consequentes. Rigorosamente é a gene é a própria mutação com força constante e autodeterminante enquanto força criativa, ou nos organismos vivos, vontade. E é sobre esta força elementar que não só constituímos nossa percepção do cosmo, mas o cosmo mental onde o eu e mundo se constituem antes de tudo epistemologicamente.

Mesmo que toda a estrutura da mente e da realidade seja artificial ou naturalmente construída para o quer que seja, servidão ou poder, para que venhamos a nos libertar e criar, ou apenas sobreviver e reproduzir. Seja qual for a configuração, o ponto é que não somos pedras que vão para onde são jogadas, nem animais que mordem ou abanam o rabo conforme o dono ou a vida nos trata. Somos dotados da capacidade de alterar nosso sentir-pensar e agir de acordo com nossa vontade, assim como termos toda nossa pisque alterada pela manipulação exterior dela. E isso que constitui toda a ciência do nosso poder e liberdade, também constitui a nossa maior fraqueza e vulnerabilidade, a capacidade de entender, controlar e manipular as vontades ao invés de ser controlado por elas, tanto as nossas próprias quanto as dos demais.

Exposto assim superficialmente, o controle da vontade, a nossa ou alheia, parece ser apenas uma questão de qual é o sujeito e objeto do controle. Não é. Muito longe disso o controle da própria vontade e o da alheia, são procedimentos tão distintos e contrapostas quanto poder e liberdade, ataque e defesa, conquista e resistência, onipotência e invulnerabilidade, contrários, diversos e antagônicos não só em objetivos e princípios, mas em meios. Completamente diferentes nos métodos, processos, e técnicas aplicadas sobre as vontades que resultam não só em relações completamente diferentes, mas em pisques completamente distintas. Tanto na relação daquele que busca a manipulação da vontade alheia para a consecução da sua própria e quem sofre com tais procedimentos. Quanto daquele que não só busca evitar controlar e ser controlado pelas vontades alheias, mas até mesmo pela sua própria como desejos incontroláveis.

A chave para o domínio e poder seja sobre uma única alienado, seja sobre massas deles, a porta para realizar os desejos de poder e onipotência também é também o ponto fraco, a vulnerabilidade de todo ego. E se a luta pela imposição das vontades uns sobre os outros é uma guerra, a sua preservação é uma arte marcial. Uma espécie de jujitsu mental onde aquele que que não quer controlar nem ser controlado busca sempre uma posição onde não só evite ser dominado inconscientemente pelo outro através das sua própria vontades, mas assumindo o controle das suas próprias vontades conscientemente, não como instância decisória, mas como força de vontade.

Uma questão de probabilidades?

O bate-papo virtual entre Einstein e Hawking

Deus não joga dados”. Nem é dono de cassino. As teorias das probabilidades e suas leis não se aplicam a esse outro campo do conhecimento que não é um jogo de azar regido pelo acaso, por coincidências, mas sim pela ordem das causas e consequências, as leis físicas do universo. Bem, isto é o que poderia contra-argumentar um objetor mais sério da proposição que a certeza no nascer do Sol não é uma uma jogo, não é uma brincadeira nem uma aposta praticamente certa, mas uma certeza praticamente absoluta, e não tem graça. Ou melhor graça tem, mas não é engraçado: O Sol não é uma loteria, nem a vida ao menos para a maioria de nós é uma roleta nem de Monte Carlo nem russa. Ou pelo menos não deveria ser.

Entretanto entre o deveria ser e não-ser, e como as coisas são e não-são, não há nenhum relação necessária. E talvez ninguém (recentemente) tenha procurado objetar com mais afinco a aleatoriedade ou, o que é quase a mesma coisa, encontrar essa ordem necessária que Albert Einstein. Não só com frases de efeito mas buscando anos a fio provar sua tese que ele próprio considerou seu maior erro (e talvez não tenha sido): a “constante cosmológica”. Mas sobre essa pedra filosofal da física contemporânea falaremos mais a frente. Por enquanto, vamos ficar só nas frases de efeito.

“Nada é por acaso. Deus não joga dados com o mundo. Deus é sútil, mas não é maldoso”. Disse Einstein.

Ao que Stephen Hawking objetou (em seu dialogo imaginário): “ Deus, [não só] de fato, joga dados. [Como] (…) o problema é que muitas vezes ele os lança em lugares que não enxergamos”

Só faltou completar que ele não existe, mas se existisse pode ser até que não fosse maldoso, mas certamente teria um senso de humor negro infinito… como o deus do cartunista ao lado que definitivamente é brasileiro. Mas é claro que isso seria de novo uma piada, deus brasileiro é um paradoxo, pois capacidade infinita para rir das desgraças, não só dos outros mas as nossas, implica em resignação existencial igualmente sem fim, o que logicamente elimina a possibilidade de se mover para criar qualquer coisa que dirá o mundo… e em 6 dias. Embora pensando bem, se sou um todo-poderoso tipicamente brasileiro e tenho ainda por cima todo o tempo livre do (outro) mundo, para quê então a pressa? Posso pegar alguém, escravizar, amarrar a um piano e esperar que mais hora menos ele componha uma sinfonia para mim, afinal ele vai estar preso lá para sempre; enquanto isso… vou jogando paciência enquanto espero para poder jogar dados, (ou vacas na cabeça dos outros). Sem problemas. Porque afinal, mesmo que meu bom humor não seja infinito, minha resignação é eterna.

E enquanto o brasileiro espera o futuro chegar com esperanças matemáticas ainda menores do que uma vaca cair na sua cabeça, ou um meteoro cair na Praça dos Três Poderes em Brasília. Voltemos para a guerra pop entre os deuses de Einstein e Hawking, mas agora mais atentos para as é figura de linguagens na retórica de cada um.

Não se deixe enganar pelas metáforas: nem Einstein acredita no deus teológico, nem Hawking é um niilista cosmológico. No fundo, o credo de ambos é o mesmo, a ciência, a existência de uma ordem que pode ser conhecida e explicada pela razão. As dúvidas discordâncias não estão sobre a existência de uma ordem natural no Universo, mas no grau de certeza e logo incerteza sobre a possibilidade de conhecimento dela. O que faz de ambos ateus do ponto de vista religioso, mas pessoas de uma fé profunda na ordem do Universo, e no credo da ciência como sua fonte de revelação descobertas quanto das certezas nas pressuposições não demostráveis, os axiomas ou dogmas. E querendo ou não os princípios e finalidades do credo estão mais próximos de Laplace ou no máximo do mártir da ciência o panteísta Giordano Bruno do que dos crente do deus ex machina antes durante ou depois da criação.

Pode soar estranho se referir a ciência como credo, mas tanto o racionalismo do qual o pensamento e método cientifico se assentam num pressuposto de fé. Fé na existência de uma ordem no universo passível de ser conhecida pela pensamento racional e científico. Mas certamente não mais estranho, aos mais puritanos, que essa mistura de deus, ciência e jogos de azar. Probabilística-metafísica-cosmologia: Uma mistura quase psicodélica. Porém, o problema- digo problema para quem não gosta de misturas as coisas- é que essa mistura está presente justamente na origem histórica tanto da física quanto da matemática como as ciências que hoje conhecemos.

Historicamente falando não é correto dizer que os pensadores que fundaram essas ciências misturavam as coisas, mas sim que as coisas a época que as essas obras seminais foram concebidas não eram pensadas de forma tão separadas e compartimentadas. Porém o fato permanece, misturadas est. E se a obra seminal da Física Clássica “Principia” de Newton entrega a mistura não só no título mas dentro de toda sua composição. Na probabilística os laços são ainda mais estreitos.

(…)Os alicerces da teoria do cálculo das probabilidades e da análise combinatória foram estabelecidos por Pascal e Fermat, as situações relacionando apostas no jogo de dados levantaram diversas hipóteses envolvendo possíveis resultados, marcando o início da teoria das probabilidades como ciências.- História da Probabilidade — Brasil Escola (…)

O Determinismo no Indeterminismo

Quando portanto falamos que deus não joga dados estamos a discutir tanto o tanto o grau de predeterminação da ordem do universo quanto do nosso grau de conhecimento desses fatores determinantes das causas e consequências. A indeterminação é portanto um objeto do nosso conhecimento e desconhecimento tanto dessas predeterminações das causas quanto do nível de predeterminação de causas, isto é, se ou quanto são predeterminadas.

A teoria do caos, lida com a complexidade de causas e consequências fenomenologicamente todas predeterminadas bem ao gosto de Laplace, mas ainda sim fora do alcance completo da nossa cognição pela complexidade dos eventos frente a limitações cognitivas da nossa capacidades naturais e artificiais de percepção-cognição, ou sejas que não dependente do estágio ou condição atual de conhecimento, aquisição e produção do saber, mas dos limites inerentes da sua produção por seres que não observadores oniscientes mas partes integrantes do universo, ou seja, objetos da observação tentando ser o máximo que podem apenas sujeitos.

Não estamos portanto aqui falando da conhecida Teoria do Caos.

Aqui, não estamos propondo que as causas da indeterminação de todos fenômenos percebidos como caóticos é produto da complexidade do sistema, uma consequência das infinitas possibilidades de interação de fatores predeterminados versus uma possibilidade de conhecimento em espaço-tempo real delimitado, mas sim que o comportamento caótico dos fenômenos de fato gerados por forças entrópicas não é só gerado espontaneamente como todo força elementar mas instantaneamente autodeterminado. Como o matemático disse “o processo não guarda memória”, o seja, sua configuração é definida no exato instante da sua manifestação. É portanto literalmente definido por nenhuma causa, ou o que é a mesma mais precisamente como única ordem que estabelece tal padrão aleatório, o acaso. Assim sendo, mesmo a um ser onisciente, um demiurgo platônico, o universo continuaria um mistério imprevisível, ou mais precisamente, probabilisticamente menos determinístico quanto maior for a propriedade caótica em sua composição.

Logo o acaso é de fato uma propriedade fundamental do universal, segundo tal tese, a mais primordial e fundamental de todas, mas isso não quer dizer que o acaso é desprovido de suas razão determinante. Em outras palavras deus joga sim dados e os joga longe do alcance da nossos olhos, mas o saber da constância desse comportamento aleatória, não torna a previsão do comportamento do universo insondável, pelo contrário, o saber das suas constante indeterminista torna as previsões probabilísticas que levem em consideração essa constante da inconstância mais corretas e precisas. Pois de tal tese não for uma fantasia, a ordem caótica no final das contas, em amostragens suficientemente representativas do espaço e do tempo, tendem a a apresentar um padrão.

A constante da inconstância, ou o que é a mesma coisa da variação sob nenhuma ordem ou razão restabelecida, evidentemente não pode ser diretamente deduzida da pressuposição de ordem, mas pode ser logicamente deduzida da pressuposição da sua ausência, ou seja a pressuposição de desordem. Deduzida a partir da suposição de que a ordem conhecida e estabelecida está sempre na eminencia de se desfazer, assim como da absoluta desordem a possibilidade de emergência de um configuração ordenada pode emergir espontânea. E o mais importante tal nível de desordem do sistema pode ser relativamente calculada e prevista de acordo com tanto com a ordenação possível e projetada quanto a estabelecidas e configuradas. Ou seja se o sistema não possui memória, ele não pode se comportar como se tivesse uma. Se o sistema não possui causas para produzir ordenadas num tempo infinito ele não só irá apresentar todas as configurações ordenadas possíveis, como não poderá manter somente a elas. Pelo contrário, não é necessário um tempo infinito, mas tão somente uma amostragem de tempo suficiente para empiricamente sabermos se o sistema é regido por causas e consequências, é predeterminado, ou se é indeterminado regido por padrões aleatórios que apresentam a configuração especifica da ordem aleatória. Ou seja, se o jogo é de cartas marcadas ou se é de fato uma loteria justa.

Mas qual configuração seria essa que caracteriza o comportamento dessa liber elementar da natureza? Qual é o padrão de ordenação que caracteriza a onipresença dessa ordem entrópica universal?

A constante universal e o Universo em expansão

Tomemos uma sistema finito e fechado e regido predominantemente entropia uma panela de pressão, por exemplo. Qual é a probabilidade de todas as moléculas sincronizada se concentrarem ou mesmo atingirem espontaneamente um único ponto como se estivessem organizadas?

Supondo que a panela jamais perderia pressão nem explodisse, se pudêssemos mapear a história da trajetória de cada molécula numa matriz espaço tempo, durante um tempo infinito a distribuição e variação das moléculas em cada posição tenderia sempre ao absolutamente igual. Não há uma ordem determinando cada trajetória de cada partícula a cada instante, mas há uma ordem determinando o padrão do conjunto das moléculas que tende literalmente a ocupar igualmente todo o espaço, quanto maior for a amostragem de tempo. Se não houvesse, não haveria razão para que as moléculas não apresentassem determinados padrões ordenados constantes em diferentes sistemas não importa o tempo de observação, mesmo que infinito fosse.

Se não houvesse tal força e ordem entrópica universal diferentes sistemas fechados apresentariam de fato o que se supõe como comportamento completamente desprovido de qualquer razão, ou logos. Se assim fossse, uma loteria poderia simplesmente cair sempre no mesmo número, e isso não seria um fato extraordinário, mas normal. Isso porque infinitos sistemas aleatórios apresentariam espontaneamente infinitos possibilidades de padrões lógicos de ordenação aleatória e não um mesmo padrão, a saber, o caótico, isto é justamente o padrão que tende a variar as a realização das combinações de forma absoluta igual em termo de probabilidade instantânea em relação as possibilidades de ordenação, um fenômeno que é percebido e pode ser deduzido semioticamente como padrão que justamente demanda a ausência de ordem preestabelecida.

Interessante notar que em espaços abertos, gigantescos e potencialmente infinitos em relação a matéria existente, o padrão desse sistema seria justamente o observado ao nosso Universo, a expansão. Dado que num espaço-tempo infinito a matéria tenderá entropicamente sempre a distribuir igualmente por todo essa matriz. Ou seja tenderá a expansão. Isso não quer dizer que não houve Big-Bang, nem que não exista a tal “matéria ou energia escura”, mas que com ou sem esse evento e elementos, o universo ainda apresentaria o comportamento observado, se expandiria por conta dessa propriedade, ou melhor força elementar inerente que compõe (e decompõe) toda matéria.

A física da matemática

Aplicamos a matemática para produzir os cálculos da física, mas muitas vezes nos esquecemos de aplicar a física para produzir os cálculos matemáticos. Quando tanto a física quanto a matemática, antes de serem representações simbólicas do saber e campos distintos do conhecimento, são fenômenos da physis[4] e seu logos. Fenômenos epistemológicos produzidos tanto por esse mundo e seus padrões quanto pela observação deles enquanto conceitos físicos, matemáticos, filosóficos ou de qualquer outra categoria abstrata do pensamento, que represente o conhecimento do que tomamos por concretude e realidade do mundo e das coisas e suas relações.

Quando Newton, por exemplo, formula a lei da gravidade, o que está fazendo é descobrir a razão fenomenológica por detrás de eventos computados instintivamente como um padrão matemático intuitivo. Mais precisamente, construindo um modelo que fundamente os padrões observados e contabilizados de ocorrência de um evento. Porém a sua lei universal da física como qualquer outra lei universal da natureza não só tem jurisdição limitada por mais extensa que seja sua validade no tempo e espaço do conjunto universo observado, como também tem brechas e furos, como toda lei humana artificial, mesmo quando essas brechas e furos não são a intenção de um legislador desonesto.

As leis da física não fogem às leis matemáticas da probabilidade. Se existe a possibilidade incondicional de uma lei falhar submetida há um tempo e espaço infinito, a probabilidade dela eventualmente falhar ou estar falhando, agora mesmo, se inverte tornando a possibilidade da existência dessa singularidade praticamente infinita, ou seja, a certeza.

Pensar na infabilidade das leis científicas como se fosse uma infabilidade papal é produto dos mesmos erros aplicados a diferentes campos do pensamento que tem por objeto não diferentes universos, mas o mesmo. Fenomenologicamente não existem fronteiras, campos nem territórios do pensamento e saber, não entre os objetos do saber e dos credos. Se na ciência e na religião essas divisões abstratas entre territórios do ver e saber é produto de um tratado de paz entre a autoridade sobre seus respectivos domínios, sobre mentes e corações. Na matemática e na física a divisão e disputa não chega a tanto e tem suas aplicações, mas não deixa de ser política, também não deixa de ser mero produto de uma cultura do saber que imita e replica, inconscientemente ou não, os hábitos e costumes antropológicos na sua estruturação compartimentalizada dos seus campos e domínios.

Ora, então não seja por isso. Não percamos tempo em desatar o que não é feito para ser desatado. Vamos mandar às favas, as divisões e fronteiras sobre o abstrato e concreto, e sobre o físico e o metafísico. Esqueça a navalha de Occam[5] e pegue logo a espada de Alexandre e vamos cortar esse nó górdio e entender os conceptos mentais em sua concretude em toda a sua abstração mental.

A lei das probabilidades está abrindo mais do que portas para a ciência da incerteza, está abrindo as portas para a ciência do impossível. Ela não tem implicações cognitivas não apenas epistemológicas, mas fenomenológicas. Ao afirmar matematicamente que não existe possibilidade absolutamente certa, logicamente a lei também está afirmando que não existe impossibilidade absolutamente certa ou, o que é a mesma coisa, que não existe o impossível. A mera incerteza da possibilidade fenomenologia de um evento elimina, ao menos do ponto de vista científico, a correção com que se aplica o conceito impossível. Saber que se aplicado à física implica que o impossível concebido como concretude ou, mais precisamente, o vazio não passa de um campo abstrato de probabilidades momentâneas praticamente nulas, mas também praticamente certas numa somatória infinita desses momentos, mas pode chamar pelo nome popular, eternidade.

A física da matemática trata, portanto, deste campo relegado à transcendentalidade, o campo do impossível, erroneamente confundido com o campo do incognoscível. Parece lidar com abstrações sem correspondência fenomenológica, quando, na verdade, está estudando a lógica dos fenômenos invisíveis, altamente improváveis e tido como impossíveis, no limite do horizonte de eventos do buraco negro do cognoscível, mas ainda, não dentro dele.

O vazio, a ausência de substância ou matéria, seja como ausência de padrão ou ordem, o vácuo e o caos não são uma caixa fechada sem sentido. Os conceptos inexistências fazem referência aos fenômenos concebidos por negação aos senso inteligidos, porque os que incognoscíveis, esses por óbvio e definição, passam batido, não são nem deixam de ser, aos nossos olhos, sendo ou não.

As probabilidades não funcionam quando aplicadas como teorias e cálculos racionalizados, nem heuristicamente por sorte ou uma feliz coincidência. Essa capacidade de pensamento abstrato se desenvolveu como adaptação à natureza, mas isso não é prova, sim é apenas uma evidência. Uma pista de que o raciocínio matemático probabilístico se fundamenta em observações de leis e forças ainda mais fundamentais e logo mais banais e despercebidas que as que levam as maçãs e outras coisas ao chão.

Sim leis tão universais quanto a gravitação, porém mais difícil ainda de serem descobertas já que não estamos dentro da lei, mas da sua exceção. Não somos a chance certa, mas o impossível que aconteceu. A singularidade. A sequência ordenada em meio aos infinitas combinações e padrões aleatórios. Um ponto ínfimo fora da curva do universo repleto de vazios e caos, mas pode chamar de entropia[6] e se ela falasse diria: Prazer. Você é a pulga eu sou o cachorro.

Não, a entropia não é só a segunda lei da termodinâmica, mas sim é o padrão de organização do que não possui nenhum padrão ordenado de combinação. Isso não faz da entropia um Deus, Criador do Universo, bastante imprevisível, mas não incognoscível nem completamente indeterminado. Pois não importa se Deus joga dados, e ainda faz suas jogadas longe das nossas vistas. Porque ao fazê-lo e necessariamente fazê-lo, permite que façamos predições sobre elas. Não podemos saber qual ele vai certamente jogar, mas podemos enumerar e apostar em quais ele não poderia jogar sem quebrar a entropia e constituir um padrão ou uma ordem, esse sim bem mais previsível. Em outras palavras, não sabemos nunca com certeza qual será o padrão ou se ele se manterá, mas da mesma forma que apostar com razoável certeza que é possível que ele se mantenha uma vez estabelecido, podemos saber com a mesma razoável certeza que os eventos continuarão a se comportar aleatoriamente dentro de padrão entrópicos enquanto nenhuma ordem se estabelecer com razoável certeza de continuidade.

Isto é, quando os matemáticos fazem cálculos das probabilidades para eventos aleatórios, eles estão fazendo predições baseadas na observação de um princípio fundamental de organização do Universo: a entropia, o caos. Cujo padrão não é ausência fenomenológica de padrão, mas justamente a presença de um determinado padrão de organização que se caracteriza e pode ser rastreado epistemologicamente pela ausência de padrões ordenados. Fisicamente falando, o caos é, portanto, um padrão de organização, caracterizado não pela igual emergência de ordem ou desordem, mas justamente pela alta probabilidade da continuidade de ausência de qualquer padrão ordenado percebido.

Vamos trocar então a metáfora do Deus dono de cassino, para não causar confusão a quem o tenha ao pensamento literal, até porque nem como metáfora ele é político nem mafioso. Vamos lidar com a Entropia com termos e conceitos mais neutros e palatáveis de princípio criador, ou seja, uma lei universal proveniente de uma força elementar do universo. Quando um físico prediz usando a probabilística, a distribuição mais ou menos igual, mas sem nenhuma ordem, que se mantenha ao longo de um tempo infinito das possibilidades de combinação das partículas, dentro de um determinado espaço fechado ou quando um matemático está calculando as possibilidades de uma combinação em uma loteria, sabendo ou não, ambos estão fazendo cálculos em cima da entropia do sistema. Mais precisamente, fazendo cálculos das incertezas dentro dos limites do seu conhecimento, enquanto observador-apostador, dentro do sistema de probabilidades. (…) -Conexões: Da Matemática da Física à Física da Matemática

As primeiras civilizações

Não, esse não foi o nascimento da humanidade nem sequer das primeiras civilizações. Até porque, ao contrário da narrativa prepotente e absolutista desse modelo civilizatório, ele não foi, nem é o único, e sequer foi o primeiro modelo de civilização. Simplesmente não tem como, não possui o necessário para sê-lo.

Não criou a maioria conhecimentos e invenções que se atribui a ele, por uma simples razão, não saberia como fazê-lo. Em verdade, tomou para si junto com as terras, povos e comunidades e outras civilizações que pilhou e colonizou esse saber, porque se apropriar do pre-existente é o saber e arte das civilizações que prevaleceram. Gostemos ou não, nossas civilizações. Há de haver portanto outras civilizações. sim civilizações e e não só comunidades que antecederam e desenvolveram saberes que não se produzem pela arte da apropriação e alienação, mas somente pela arte da próprio-concepção e autoprodução.

Uma outra história da origem das civilizações que está só começando a ser buscada, e que talvez seja desenterrada de sítios arqueológicos no Vale do Indo no Paquistão.

A história de uma civilização tão, ou até mais, antiga que as do crescente fértil na mesopotâmia. Um outra história para a origem da civilizações humanas. Uma outra gene bem mais ao oriente, bem mais negra, possivelmente matriarcal, mas certamente bem menos ariana. Onde os invasores tem um papel muito menor nessa gênese do que eles atribuem e celebrar (até hoje) para si.

Descobertas, portanto, que poderão mudar não só o locus do centro do mundo civilizado, mas dos povos e arquétipos raciais. Poderão revelar como de fato se desenvolveu tanto a produção da civilização quanto do seu progresso, assim como como se deu a apropriação e produção de narrativas que tanto apagou essa memória e criou outra onde aqueles que tomaram os edifícios que ergueram a humanidade e inscrevam seus nomes como os pais da sua criação e invenção.

Seria ainda muito cedo e precipitado dizer o quanto dessa cultura e civilização as “raças arianas” tomaram para si; o quanto pilharam, se apropriaram ou absorverem dessas sociedades que escravizaram. O quanto essas sociedades belicosas e escravagistas, formadora de castas e classes destruíram ou tomaram para si dos costumes, saberes e artes. Ou mesmo o quanto estas sociedades subjugadas também já não tinham muito da mesma belicosidade e escravagismo dos invasores arianos, para afirmar que também não estavam assentadas sobre as montanhas de escombros e ossos de outros povos mais antigos, ou mesmos que não se sustentaram nas costas dos sobreviventes e as custas da riquezas que também só fizeram pilhar.

Mas é por isso mesmo que tais investigações são de extrema importância. Fundamentais tanto para compreender melhor tanto como tais civilizações fundadas e sustentadas pela rapinagem se estabeleceram e se sustentam, até hoje, quanto prosseguir rastreando a origem do óbvio: se não foram nem poderiam ter sido elas a produzir os adventos que constituíram as civilizações, do advento do contrato, ao comércio, da arquitetura a urbanização entre outras invenções que essencialmente materializam formas de relação e produção. Então quem?

Se não for também a civilização de Harappa, qual seria então a primeira sociedade civil, o primeiro estado de paz? Onde estariam, estas primeira civilizações sobre as quais o modelo imperial, do parasitismo do homem sobre o homem pode tomar para si, se hospedar e disseminar. Porque o dia só tem 24 horas e a vida apenas poucos anos, em relação a todo conhecimento acumulado e passível de se acumular e produzir nesse curto espaço de tempo. De modo que se tais civilizações que predominaram como império sob as demais gastaram seu tempo em alguma coisa foi para desenvolver a arte da dominação, apropriação e defesa do que tomaram; e não para produzir. Se criaram algo foi justamente a arte de manter tais domínios como divisão do trabalho entre aqueles que irão produzir e aqueles que irão comandar , se apropriar e usufruir. Até porque se tivessem desenvolvido a arte da produção e não da expropriação não teriam prevalecido e subjugado, mas sido subjugadas e exterminadas por aquela que melhor desenvolveu essas técnicas e tecnologias.

E portanto, exatamente pela mesma razão que conquistaram e prevaleceram, também não foram eles que criaram as bases técnicas e tecnológicas — não as civis e produtivas, e sim as belicosas e militares- as bases civilizatórias propriamente ditas do progresso da humanidade como civilização. Não foram eles primeiro enquanto povos dedicados e especializados na rapinagem e escravidão e depois enquanto classe dominante sobre os povos subjugados e suas prole que formaram as bases civilizatórias que tomaram e sob as quais se assentaram e continuam assentados do topo dessa espécie de enorme cadeia alimentar entre os povos, raças e classes. Mas justamente dos povos e suas culturas, do qual se alimentaram, e que cujos descendentes continuam a constituir a base de suas pirâmides.

Ou simplesmente, aquele que pilha e parasita precisa do que e quem pilhar e parasitar. Pensar o oposto é o mesmo que acreditar que aqueles que tem o poder e até são capazes de apertar o botão de uma bomba nuclear, são os mesmo capazes de construir uma bomba atômica, ou sequer entender quanto mais criar a teoria que lhes “deu” essa arma. De modo que origem da civilização longe de estar na história das guerras, conquista, ocupações, colonizações de uma povo ou raça sobre outra, está na história não contada e enterrada dessas outras civilizações cuja memória foi apagada ou adulterada. Talvez esteja até mesmo presente na memória dessas mesmas civilizações, não apenas entre os descentes daqueles que foram subjugados, mas dos dominadores, isto se algum dia não viveram apenas apenas da caça, escravização e domesticação de outros clãs e tribos. Talvez, não exista tal civilização primeira, mas o primeira vítima das raças com mentalidade ariana, ou melhor das mentes que se concebem como outra raça do tipo ariana foram sempre seus próprios povos e nações antes de qualquer outra em outros territórios. E as suásticas antes de serem símbolos de holocausto foram o símbolo roubado junto com a vida de quem os criou.

Conhecer e reconhecer essa outra gene da nossa humanidade e civilização, ainda que tenha sido roubada e pervertida, que esteja reiterada e constantemente sendo pilhada e esteja fadado a desaparecer no contato com essas outras civilizações, que mais do que raças ou culturas, são mentalidades, padrões mentais e comportamentais que se adaptados e especializados na exploração e predação de outros seres vivos incluso os humanos como recursos a seres consumidos até a exaustão; ainda sim é fundamental para entender não só nossa gênese, mas nossos genes, os códigos culturais que reproduzimos e transmitimos geração após geração.

Porque mesmo extintas como sociedades, tais formas de civilização ainda estão presentes tanto em classes sociais, como na totalidade do organismo que somos , ou ainda somos; e que subsististe dentro de nós tanto como padrões mentais quanto na complexidade das contradições da organização das nossas formas de viver nas sociedades atuais.

De qualquer forma uma revolução já está em progresso. As descobertas de que muito daquilo que nos caracteriza e nós chamamos propriamente de humano ou civilizado, não advém de raças e povos brancos e arianos tão celebrados aberta ou disfarçadamente por apologistas do supremacistas raciais cultural ou nacionais, mas sim do que saber dos ancestrais de povos e classes que foram desqualificados como bárbaros e selvagens, tratados como animais e não raro exterminados e escravizados. Do saber e descobertas dos antepassados daqueles que sobreviveram e subexistem como pessoas invisíveis intocáveis e descartáveis. Do saber de povos que foram objetivos de holocaustos e genocídios, rápidos ou lentos em guerras ou guetos.

Uma revolução sem precedentes saber que se todos carregamos o saber cultural como gene da nossa civilização, ele não só foi transmitido por aqueles que se miscigenaram, como não foi transmitido pelo exércitos de pais rapinadores e seus reinos, mas sim pelas mães histéricas e neuróticas (principalmente as de criação), as sobreviventes dos subjugados tomadas como servas domésticas e domesticadas desses conquistadores e até mesmo como escravos dos escravos deles.

Uma descoberta, que no fundo não precisamos de escavações arqueológicas para descobrir. Mas sim um pouco mais de psicanalise, não da psique e infância dos civilizados, mas da psique e infância das civilizações. Até porque como civilizações ainda não saímos dela, como coletivos ainda vivemos na primeira infância. — KOYAANISQATSI: A Idade da Consciência

Logo, considerando que santo de casa não faz milagre, os deuses são sempre alienígenas, mesmo quando são apenas ideais ou entes imaginários ou simplesmente outros povos vindos de outros terras e mundos. Ou em outras palavras não são os deuses que são alienígenas, são os nativos que são prisioneiros da alienação. Não é o estranho o estrangeiro o alienígena, o invasor jamais um ente superior ou divino, é o culto idolatra ao medo do desconhecido e supremacia do poder que faz de qualquer sinal seja ele uma expectativa mitológica ou um fenômeno ainda a ser descoberto, a espera irreal por um resposta messiânica nem apocalíptica que nunca está no céu nem nas estrelas, nem mesmo se um dia cair dela nas nossas cabeças, mas de como lidamos e autodeterminamos nossa própria existência. Algo que não depende nem de nenhuma espécie imaginária ou real de ente ou entidade suprema, nativa ou alienígena, doméstica ou internacional, física ou metafisica, mas unica e exclusivamente da força que constitui nosso ente e essência, a liberdade enquanto livre vontade.

Tradução: Com ou sem marcianos. Com ou sem deus, ou deuses, ou messias, o problema e a solução permanece o mesmo e no mesmo plano: o da humanidade na Terra. Não é uma questão da chegada de quem. Mas sim do quê. Se a humanidade continuará dentro da mentalidade patriarcalista infantil ou finalmente entrará na adulta da emancipação, responsabilidade e fraternidade, a idade da consciência. Algo que só o ser pode fazer por si mesmo e seu semelhante, definir-se. O problema nem a solução são eles os alienígenas, de todas as espécies, somos nós os alienados. O problema não são os outros, os marcianos, mas nós, que vivemos sob o culto servil ao signo de Marte.

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Marcus Brancaglione

X-Textos: Não recomendado para menores de idade e adultos com baixa tolerância a contrariedade, críticas e decepções de expectativas. Contém spoilers da vida.